por: Rodney Lisboa
No mundo contemporâneo caracterizado pela competitividade em todas as esferas de atuação, questões relacionadas à liderança devem ser profundamente analisadas por pessoas e organizações que atribuem à função do líder uma considerável parcela de responsabilidade pelos bons resultados obtidos no âmbito pessoal, coletivo e/ou institucional. Seja a liderança conquistada de maneira formal (por merecimento ou eleição) ou informal (que surge de forma absolutamente natural), e ainda que o ofício do líder possa variar conforme a atividade desempenhada, a ação de liderar está intrinsecamente relacionada à capacidade de comandar, gerenciar e influenciar pessoas.
Por ser o líder uma figura de referência para seus liderados, é essencialmente importante esclarecer a diferença semântica existente entre os termos, liderança e gestão. Expressões que devido à compreensão e o uso imprecisos de ambas, podem implicar em dificuldades consideráveis para o desempenho da equipe. Assim, é fundamentalmente importante compreender que a ação de liderar é análoga à capacidade de dirigir, enquanto o ato de gerir equivale à faculdade de controlar. Nesse sentido, cabe ao líder a responsabilidade de estabelecer objetivos e delegar tarefas, sendo norteado não apenas por suas convicções e experiências, mas pela opinião e vivência de todos os membros da equipe por ele liderada. Sua atribuição é agir como facilitador de habilidades, de modo com que cada um de seus subordinados possa contribuir da melhor forma possível com os resultados pretendidos.
Ainda que o desenvolvimento e/ou aprimoramento das capacidades de liderança sejam desejáveis, sobretudo, em atividades profissionais que dependem da dinâmica do trabalho realizado em grupos. Para alcançar os resultados almejados, o tipo de liderança a que nos referimos neste artigo, é uma categoria peculiar, exercida em situações de criticidade, pressão e risco elevados, às quais exploram o máximo das competências (moral, intelectual e psicológica) do indivíduo que lidera.
Considerando que a presente abordagem enfoca a liderança no contexto das atividades militares, é imprescindível esclarecer que qualquer análise, necessariamente, deve levar em conta o tripé formado pelo líder; seus subordinados e ambiente organizacional, para que o desenvolvimento dessa relação ocorra de forma harmônica evitando desproporções (discrepâncias). Diferente do que acontece nas tropas convencionais, onde a liderança é exercida com base em um sistema de relações hierárquicas (normalmente o exercício da liderança é atribuído às patentes mais elevadas), no contexto das FOpEsp (Forças de Operações Especiais, ainda que a hierarquia necessariamente tenha que ser respeitada, há uma flexibilidade própria da atividade que possibilita ao operador se valer de sua liberdade intelectual e experiência pessoal como prerrogativa para o exercício de liderança, mesmo que pontual, independente da patente ostentada.
Por ocasião das ações levadas à efeito como uma OpEsp (Operação Especial), é fundamentalmente importante que o militar que lidera tenha conhecimento das diferentes técnicas e procedimentos adotados pela equipe, bem como das características relacionadas à tríade: líder; grupo; situação. Na condução das atividades operativas, é pouco provável que a equipe cumpra com seu(s) objetivo(s) tendo um líder tecnicamente despreparado, que ignora as capacidades de seus comandados, e que não esteja devidamente adaptado à situação que a ele se apresenta. Assim, é imprescindível que o líder faça um diagnóstico do grupo sob seu comando, de modo a adequá-lo às ocorrências e ambientes distintos.
Uma questão que merece ser debatida refere-se ao sentimento mútuo de pertencimento e camaradagem que o líder e os comandados nutrem para com sua equipe. Constituída com base em fenômeno da Psicologia denominado “Instinto Gregário”, a personalidade do grupo de operadores que compõem a equipe fundamenta-se na combinação de personalidades dos militares que a integram. Levando o operador a substituir a percepção individual (eu) por uma percepção coletiva (nós), que cria uma profunda ligação de respeito, confiança e senso de objetivo comum, enquanto evidencia uma sensação de incompletude quando o indivíduo se sente só.
No que concerne ao papel do líder de OpEsp, o comportamento pessoal é uma “ferramenta” crucial para estabelecer e cultivar uma relação de vínculo com os comandados. Assim, ainda que o carisma pessoal contribua para despertar a empatia, as atribuições de liderança são legitimadas quando o líder adota uma conduta apropriada (liderar pelo exemplo), postando-se, relacionando-se e comunicando-se de forma direta e transparente com seus subordinados.
O caráter muitas vezes sensível e urgente das OpEsp não dá margem para dúvidas ou hesitações. Assim, tão importante quanto a precisão das ações executadas no curso da operação, é tarefa do líder tomar decisões críticas que podendo resultar em ameaça à interesses político-estratégicos e/ou risco de morte, forçando-o a assumir os encargos que lhe cabem por ocasião dos resultados obtidos no desfecho da missão (Responsabilidade de Comando).
Ainda que as particularidades relacionadas ao risco, pressão e criticidade nos ambientes corporativo e empreendedor sejam absolutamente distintas daquelas vivenciadas na esfera militar pelas FOpEsp, cabe aqui estabelecer uma correlação. Um líder inapto, em qualquer desses segmentos, pode comprometer processos, obstaculizar seus subordinados, prejudicar a qualidade dos serviços prestados, impactar a performance da equipe e da instituição, bem como afetar de modo irremediável a credibilidade das organizações.
Em uma palestra ministrada em fevereiro de 2012, para um público de seiscentas pessoas no auditório da Stanford Graduate School of Business, Stanley McChrystal, General (reformado) do Exército norte-americano que entre 2003 e 2006 comandou o JSOC (Comando Conjunto de Operações Especiais dos EUA), discorreu acerca das estratégias que levaram as tropas da coalizão lideradas pelos EUA a assumissem a iniciativa das ações levadas à efeito contra os fundamentalistas do Talibã e da al-Qaeda, fazendo com que a balança de mediação de forças começasse a pesar em favor da força-tarefa por ele encabeçada. McChrystal foi um dos principais articuladores da abordagem que considerava a constituição de equipes planas, ágeis e multifuncionais, muito melhor adaptadas ao cenário de enfrentamento do século XXI que as estruturas hierarquicamente rígidas das organizações militares tradicionais. Para o público acadêmico presente àquela palestra, o General McChrystal declarou que o exercício da liderança não é fruto de um dom ou talento, mas a consequência de uma escolha. Ponderando acerca dessa afirmação, é possível presumir que pessoas que manifestam essa virtude podem, por opção, falta de conhecimento ou oportunidade, não a exercitar. Entretanto, àqueles que optarem pela prática da liderança, independente desse atributo manifestar-se de forma inata (dom) ou adquirida (talento), devem preparar-se sistemática e convenientemente para essa difícil incumbência.
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