por: Fábio Rocha
Não temos dúvida da dimensão e da importância das ações, projetos e
investimentos sociais realizados pelo setor privado e pelo setor nãogovernamental,
estimando-se que os mesmos totalizem mais de 2,5% do PIB
brasileiro.
Este cenário também propicia um movimento já bastante comum, anterior ao
crescimento do movimento de responsabilidade social empresarial no Brasil, que é
o da realização de parcerias entre o setor privado e o terceiro setor, este último
muitos vezes representando formalmente a comunidade (associação de
moradores, grupos locais, etc) em que o projeto será realizado ou o público-alvo
da ação (ONG ambientalista, ONG voltada para terceira idade, ONG voltada para
o cultural, etc).
A maior preocupação, já tratada em trabalhos acadêmicos, pesquisas e artigos é
que muitas empresas têm demonstrado insatisfação na qualidade destas relações
e principalmente com o amadorismo, no que tange aos aspectos de gestão destas
instituições sem fins lucrativos (ONG´S).
Este contexto tem fortalecido a idéia no setor privado que a saída é o
fortalecimento de suas fundações privadas e/ou a criação das suas próprias
organizações não-governamentais, hoje muito bem representados pelos institutos,
o que fragiliza as organizações não-governamentais de base ou da sociedade civil
organizada.
Lembramos que o verdadeiro terceiro setor brasileiro não se assemelha às
características presentes pelas instituições associadas do GIFE – Grupo de
Institutos, Fundações e Empresas ou por instituições que estão na mídia e são
exceções nos aspectos de profissionalização da gestão, como por exemplo,
Instituto Airton Senna, Viva Rio, Obras Sociais Irmã Dulce, IBASE, Fundação Gol
de Letra, entre outras.
A palavra “verdadeiro” aqui significa o sentido de maioria das instituições que
fazem parte do setor e não de apropriação indevida de personalidade jurídica ou
de representação do setor.
Assim, a maioria das ONG´S brasileiras, independente das polêmicas conceituais,
presente nas comunidades, tem as seguintes características:
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• Domínio da sua atividade-fim;
• Criatividade;
• Capacidade de trabalhar com o imprevisto;
• Compromisso com a causa social;
• Atividades assistenciais;
• Deficiência crônica na estrutura de gestão;
• Amadorismo;
• Indefinição de foco;
• Inexistência e/ou deficiência no planejamento estratégico e/ou operacional;
• Pouca representatividade;
• Processo de decisão lento e centralizado;
• Inexistência e/ou deficiência do sistema de informações;
• Falta de sensibilização de pessoal para o trabalho voluntário;
• Processo de decisão lento e centralizado;
• Falta de recursos humanos e materiais, como também de um sistema
administrativo;
• Influência da política-partidária;
• Nível de escolaridade inadequado para o exercício do papel dos gestores; e
• Inexistência e/ou deficiência na área de comunicação/marketing.
Com este cenário podemos destacar que as maiores dificuldades destas
instituições referem-se aos aspectos de gestão, o que compromete muito o atual
modelo de parceria empresa-terceiro setor excessivamente concentrado no
repasse de recursos financeiros e com pouca presença de ações de
desenvolvimento institucional.
Portanto, muitas destas instituições são apoiadas por uma mesma empresa há
mais de 05 (cinco) anos e estão cada vez mais dependentes e fragilizadas, como
também a ineficiência e o desperdício de recursos crescem quando os volumes
transacionados são maiores. Em outras palavras quem gerencia de maneira
pouco eficiente R$ 10.000,00 (dez mil reais), terá problemas gerenciais muito
maiores com R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Com este quadro, no intuito de maximizar a riqueza destas relações de parceria e
o quanto positiva para ambas as partes ela pode ser, sugerimos algumas
mudanças neste modelo de relacionamento, são elas:
1. Objetivos claros de parceria;
2. Definir início, meio e fim de cada projeto;
3. O envolvimento da empresa com a organização não-governamental e o
projeto, nunca pode ser baseado em mero repasse de recursos;
4. Durante o projeto deverão ser formados multiplicadores internos na ONG
parceria para dar continuidade as ações realizadas;
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5. È fundamental que o enfoque seja dado a partir de uma organização nãogovernamental
que não é a beneficiária do processo, mas, um agente ativo
na parceria, inclusive com a obrigação de oferecer uma contrapartida real
(mobilização da comunidade, disponibilização de voluntários, etc), evitando
relações de mero patrocínio;
6. Definir como condição desejável ao repasse/apoio da empresa, uma ação
específica na área de gestão e/ou treinamento gerencial, que pode ser
executado até por uma terceira instituição, como por exemplo, uma
consultoria ou as universidades;
7. Buscar a união nas ações de negócio da empresa e ação social (domínio
do negócio), ou seja, aproveitar a expertise da empresa para os projetos
sociais;
8. Definição de estrutura própria na empresa para a área social e/ou parceria
com entidades especializadas;
9. Estimular, apoiar, desenvolver e priorizar que seus gestores e
colaboradores exerçam o chamado voluntariado do conhecimento
(orientação técnica nos aspectos de gestão, apoio na captação de recursos,
apoio na articulação de outros parceiros, construção de sites, elaboração
de um plano de comunicação, etc);
10. Conceber e negociar com a entidade parceira um sistema de avaliação da
parceria e/ou do projeto (indicadores de resultados); entre outros aspectos.
Não temos dúvida da existência de muitas destas características em alguns
modelos de gestão da atuação social externa de algumas empresas, mas, ainda
são exceções.
Como também que a melhoria da relação da empresa com este stakeholder (parte
interessada) tão importante é apenas um dos capítulos da extensa agenda da
responsabilidade social empresarial, mas, com certeza é uma alternativa melhor
do que criar um braço social da empresa (uma outra personalidade jurídica) e
desconsiderar os trabalhos sociais já realizados pelo setor não-governamental.
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