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Saber ou não saber português – do que estamos falando de verdade?


por: Cristina A Schumacher

Saber ou não saber português – do que estamos falando de verdade?


 


A mistura de culpa por - e certeza de - “não saber português” cria em nós uma série de vantagens duvidosas. Duvidosas porque se limitam a beneficiar um pequeno número de pessoas apenas. Pessoas que publicam obras que exploram as regras sem nos dar qualquer margem de compreensão do porque, afinal, “erramos” tanto e sabemos “tão pouco”. E nada mais.


Quando se fala de erro no idioma materno, é importante reconhecer que, como nascemos falando a nossa língua, temos dentro de nós um conhecimento intuitivo sobre essa língua que é altamente confiável. Com base neste conhecimento intuitivo podemos explorar o mundo da palavra e nos apropriarmos da língua que falamos. É o ingresso em um mundo fascinante e insuspeitado onde cada coisa que dissemos conta, e onde sentimos os efeitos dessa constatação a cada momento.


 


Ao contrário do que se espera que seja o pensamento corrente em tempos de inédita abundância e disponibilidade de informação, sob a constatação de “não saber português” abrigamos uma série de crenças que podem ser muito destrutivas. A que mais nos interessa aqui, tão camuflada de disciplinada e portadora de boa imagem quanto insidiosa e produtora de baixa autoestima, é aquela que diz respeito ao que é correto no falar e no escrever. Como se, por usarem veículos parecidos, apenas para citar um exemplo, a palavra escrita e a falada fossem iguais. Como se dependêssemos, necessariamente, de um avaliação externa para ter uma permissão de uso em nossa comunicação, realizada na língua que crescemos falando, e que é produzida em contextos tão diversos que extrapolam em muito a noção de correção e de erro.


Parece que nós brasileiros atingimos o estado da arte da repressão e da falta de esperança nessa área. Nós mesmos nos reprimimos, nós mesmos nos frustramos, convencidos de incompetência inata e irremissível (que não podemos salvar). Quantas vezes ouvimos – e quantas dissemos, nós mesmos – que não sabemos português? Que erramos continuamente?


Mas veja: não há melhor veículo do que o idioma próprio e a visão generalizada sobre ele para fortalecer – ou enfraquecer - o sentimento de inferioridade e passividade de um povo. Fazer com que seus cidadãos falantes acreditem que não sabem falar a língua que falam. E não parece mesmo absurdo, dito assim? É tema para muito debate…


 


 

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