Loading...

É preciso mais que consciência


por: Jorgete Leite Lemos

Aqui não há espaço para indicação de culpa, mas para o alerta: estamos em uma sociedade que se transforma em uma velocidade nunca antes imaginada; ou aproveitamos para agir ou as mudanças serão impostas por meio de ações afirmativas para reduzir as consequências das injustiças sociais sofridas pela raça negra.

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, comemorado hoje, foi instituído pela Lei Federal nº 12.519/2011 para homenagear Zumbi dos Palmares e possibilitar a reflexão sobre as questões decorrentes do preconceito e da discriminação racial sofridos pela raça negra e a luta de seus heróis no Brasil. Mas é muito pouco.

Que histórias nos contaram na família e na escola sobre a participação dos negros em nossa sociedade? Sabemos que a escola, assim como a sociedade, ainda privilegia a estética hegemônica, transmitida de geração para geração e carregada por estereótipos, preconceitos e discriminação.Há um meio para mudar isso: o ensino. Embora tenhamos a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da cultura africana nas escolas brasileiras, a prática ainda não é totalmente efetiva.

Na última década, avançamos no trato das questões que bloqueiam as oportunidades de acesso dos negros – 51% da população brasileira – à educação, trabalho e renda.Tivemos a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), além das leis nº 12.990/2014, que reserva aos negros 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos, enº1.711/2012, de cotas no ensino público para pessoas de baixa renda familiar, índios, negros e pardos.

Mas não houve avanço quanto à aplicação de pressupostos legais na vida prática. Se, de 2003 a 2013, a renda da população negra cresceu 51,4% ante 27,8% da branca (dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a renda dos negros corresponde a apenas 57,4% da dos brancos, embora seja um índice maior do que os 48,4% de 2003. Ainda: nesse período, a queda no desemprego foi de 8,3% para os negros e 6,1% para brancos.

O que as pesquisas ainda não apontam são as causas da dificuldade de agilizar a redução desses gaps. Há um grande desafio para superar a dicotomia entre a legislação e o que queremos de fato fazer acontecer.

Sobre que bases nos apoiamos para sustentar nossas atitudes? A ético-religiosa (amar ao próximo como a nós mesmos), o etnocentrismo (ter a si mesmo como principal ponto de interesse, atenção e referência) ou a tolerância, que tem como pressuposto básico “todo homem social interage e interdepende de outros indivíduos”.Falta praticar os valores da tolerância, ausente em situações recentes, como as de jogadores de futebol ofendidos no exercício de seu trabalho ou clientes que se negam a receber atendimento de um negro.

Um grande avanço ocorrerá na medida em que cada um de nós, profissionais de gestão de pessoas, refletir sobre a forma que vimos conduzindo o nosso relacionamento com pessoas negras, reforçare difundir os pontos positivos e eliminar os negativos.

Sabendo que cada pessoa no trabalho pode ser propagadora em seus ambientes de convivência, podemos estender conhecimentos, habilidades e atitudes que auxiliem na desconstrução de informações depositadas, há décadas, na mente de nossos ancestrais e mantidas até hoje. Limitar a propagação dessas informações às futuras gerações é mais que um simples dever de cidadania, é preservar a sustentabilidade da sociedade e das corporações. Como obter confiança (respeito, imparcialidade, camaradagem, credibilidade e orgulho) em um ambiente de preconceitos, discriminações e “ismos”?

Mas não percamos o foco. Nas organizações empresariais, a prioridade é sempre a alta direção, que deve receber informações privilegiadas para redirecionar ações de forma proativa, e não permanecer contemplativa, apenas cumprindo leis.

O desperdício de talentos mantidos à margem do mundo do trabalho é debitado daqueles que, produtivos, são remunerados por seu trabalho, mas dividem a conta da exclusão.

VOLTAR

Todos os direitos reservados © AGAPE DO BRASIL | 2017

Scroll to Top