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Um novo olhar para as decisões


por: Homero Reis

As decisões são essenciais para todos nós. Decidimos a todo o tempo, conscientes ou não disso. Na verdade, as decisões constroem os futuros que iremos percorrer. Toda decisão tem em si o germe da dinâmica da vida. Essa dinâmica pode ser descrita de inúmeras formas. No entanto, sem nenhuma pretensão de encontrar a verdade final sobre este tema, quero compartilhar com vocês o meu modo de ver. Para mim, uma decisão existencial segue uma seqüência de cinco etapas. Senão vejamos:
 
Etapa 1: O chamado. Ocorre quando a transparência da vida é interrompida. Quando nossa atenção se foca em certas possibilidades de futuro porque o que temos agora não nos satisfaz. Desejamos algo que está além do agora, mas que entendemos ser possível. Certas inquietações emocionais aparecem e se manifestam de modo suave, porém em constante progresso. Esse momento é mais visível quando estamos diante das grandes encruzilhadas da vida: deixar de ser criança para ser adolescente; deixar de ser jovem para ser adulto, etc. Ou diante dos dramas naturais de nossa sociedade: o que vou ser? Caso ou não? Concurso público ou profissional autônomo? Saio o não da casa de meus pais? No entanto, nos micro momentos da vida também temos que fazer escolhas. E essas são percebidas quando o que temos, que em algum momento foi muito bom, já não nos serve mais.

Etapa 2: A eminência. Começamos a perceber as forças internas que nos pressionam em diferentes direções. Algumas com um grande poder de atração, porque nos fazem perceber um futuro cheio de benefícios a partir da escolha que fizermos. No entanto, outras forças, de natureza mais conservadora, também são percebidas. Esse confronto nos leva a postergar as decisões, a procrastinar as escolhas e, se não ficarmos atentos, geram imobilismo na vida. Ou seja, sabemos o que queremos e o que temos que fazer. No entanto, devido às múltiplas opções, queremos encontrar a “decisão certa” e, assim, não fazemos nenhuma escolha. Temos que compreender que não existem “decisões certas”; existem escolhas com as quais nos comprometemos. O que está em jogo, nessa etapa, é a capacidade de discernir o grau de compromisso com a mudança e com o que ela requer de nós. Essa tensão produz diferentes intensidades dependendo do grau de importância e impacto que o tema tem em nossas vidas. Começamos a entender que as escolhas que fazemos geram diferentes graus de compromisso. Percebemos, também, que escolher dois sabores de sorvete é bem mais simples do que decidir se vamos ou não trocar de emprego, ou se vamos romper um relacionamento. O momento da eminência é o momento em que nos damos conta de que as decisões têm diferentes níveis de complexidade, mas que diante de qualquer uma, temos que fazer escolhas.
 
Etapa 3: O ato de decidir. É o momento da jogada estratégica, do cheque-mate, do “agora é pra valer”, com todas as implicações emocionais envolvidas. A intensidade emocional da decisão terá relação com aquilo que julgamos ser o mais importante para nossa vida no futuro. Ninguém decide a partir do sentimento de que o resultado da decisão será pior do que o que temos no presente. Nossas decisões partem sempre do pressuposto de que o futuro será melhor. Portanto, decidir é sempre um ato declarativo que construirá o futuro correspondente, e isso não é trivial. Trocamos a situação presente que não nos agrada, por um conjunto de ações que vão, a partir da decisão, gerar o futuro declarado. Ingenuidade é pensar que, com o tempo, teremos acesso a uma decisão perfeita. Decidir e sustentar a decisão são a chave do futuro. Assistam ao filme “Advogado do Diabo” com Keanu Reeves e Al Pacino. Naquela história, o jovem advogado (Reeves) vive uma difícil vida de início de carreira. Aí, um grande advogado (Pacino), que faz o papel do diabo, lhe oferece muitas oportunidades. Reeves toma as decisões e consegue sucesso profissional, mas sua vida pessoal é totalmente destruída. No final (lamento contar) por circunstâncias da própria história, lhe é dada uma nova chance de construir sua vida, por outros caminhos. No filme isso é possível, em nossas vidas creio que não. Quando estamos num momento crucial de uma decisão, estamos conectados com o que é mais sagrado em nossa vida, ao tempo em que também estamos diante da incerteza total e do mistério da vida. Isso requer escutar o futuro; daí a prototipação.
                              
Etapa 4: A Prototipação. É o momento onde podemos olhar para a escolha que fizemos e como foi fazer tal escolha. É o momento de viver todo o caminho da decisão, observando e degustando cada etapa. Nesse trajeto aparecem diferentes sensações e diferentes emoções: dúvidas, medo, culpa, arrependimento, tristeza; ou ainda, alívio, orgulho, confiança, otimismo, etc. Na prototipação é possível nos darmos conta de que as coisas não são como esperávamos e, nesse caso, podemos ter o desejo de abandonar o caminho escolhido para voltar atrás. Mas, o que temos que perceber é que a decisão já foi tomada, o salto já se deu. Essa experiência já faz parte de nossa história. Não há como voltar atrás, a não ser por um outro processo de escolha. No entanto, o que se requer nessa etapa é a capacidade de abandonar o que já não nos é mais adequado e aceitar a chegada do futuro que escolhemos. Se não gostei, a vida não pode voltar atrás, o que posso fazer é abrir novas possibilidades de escolha e decisão, aprendendo com o ciclo anterior.
 
Etapa 5: A Ação e a Contemplação.  Nessa última etapa recuperamos a transparência da vida com o valor agregado da experiência e da aprendizagem obtidas por termos vivido cada etapa da escolha. Cada decisão nos mobiliza novas a emoções, quando a intensidade relacionada a elas encontram uma certa calma. Sentimos que a vida entra em estado de repouso e de contemplação. Nada mais há a fazer sobre esse tema, a não ser desfrutar do que foi conseguido. Isso libera energia para ser focada em outros domínios da vida e em outras decisões.
 
Creio que temos perdido esse maravilhoso nível de conexão entre nossas inquietações e as infinitas possibilidades de escolhas que o universo nos oferece. Perdemos essa capacidade porque desenvolvemos uma ansiosa solicitude na vida, onde o imediatismo (queremos tudo agora), tornou-se o senhor de nossas escolhas. O ditado “quem tem pressa, come cru” é revelador de nosso atual “estado da arte”. Não se trata de postergar, nem de tempo, no sentido cronológico. Trata-se de compromisso com a mudança e com a construção daquilo que desejamos. O futuro que queremos está presente nas escolhas que fazemos agora. Não existirá nada lá, adiante, que não tenha sido plantado aqui e agora. Da mesma forma, o que vivemos hoje é fruto de algo que escolhemos (consciente ou inconscientemente) no passado.

Tem gente que nunca toma decisões, vive postergando as escolhas até que a vida e as oportunidades passam. O que sobra disso são ansiedades, ressentimentos e resignações. Esse  novo olhar para as decisões requer retomarmos a responsabilidade sobre a vida, entendendo que jamais seremos capazes de ter, ou de ser tudo; mas, podemos ter uma boa combinação de possibilidades. Esse olhar restaura nossa saúde emocional e nos coloca de frente às inúmeras possibilidades de futuros.
 
Quando o que fazemos é viver sempre no domínio da ação, ficamos presos nas pequenas demandas da vida e não enxergamos a própria vida. Quando julgamos que todas as coisas requerem a mesma quantidade de emoção e energia, usamos nossa força, recursos, inteligência, etc, de modo inadequado. O resultado disso é um profundo sentimento de inadequação; o que nos torna incapazes de contemplar os progressos que temos obtido.

Quando o que fazemos é viver no domínio do sonho, ficamos presos em fantasias, ilusões e expectativas irreais. Isso nos coloca em isolamento com os demais e transferimos responsabilidades sobre o que ocorre conosco. Vivemos mundos idílicos e desilusões amargas.

Meu compartilhamento com vocês, neste texto, é desafiá-los a se conectar verdadeiramente com as escolas que vocês têm feito, como as têm feito e quais os resultados que têm obtido. Se em algum domínio você não tem tido o grau de satisfação esperado, recomendo rever o modo como tem feito suas escolhas e adotar uma nova estratégia. Aí está o princípio da aprendizagem, da mudança, do crescimento e da maturidade. Fazer isso é recuperar os movimentos naturais da vida e aceitar as boas surpresas decorrentes de nossas decisões.

Reflitam em paz!
Homero Reis.

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